sábado, 12 de dezembro de 2009

Perspectiva Histórica da Evolução da Comunicação/Educação

Interpretar a história da comunicação é simultaneamente compreender as fases que a educação tem sofrido ao longo dos anos.

A história da comunicação é cumulativa: cada nova linguagem, cada novo medium que Emerec criou no decurso dos tempos, sobrejuntou-se aos outros, aumentando assim a sua capacidade de comunicação. No entanto, a evolução é longa e o acesso a um novo modo de comunicação é difícil e trabalhoso, pois é bem verdade que cada um deles transforma progressivamente Emerec. “Desde que o homem adquiriu a linguagem... ele próprio determinou as modalidades da sua evolução biológica, sem disso ter, necessariamente, consciência”.
A história da comunicação pode dividir-se em quatro episódios que se sobrepõem. Cada episódio é caracterizado pela utilização de novas formas de comunicação, que transformam a sociedade e constituem um novo tipo de comunicação.




A Comunicação Interpessoal
Nos primeiros tempos o homem é o único médium de comunicação e portanto, só a comunicação interpessoal é possível.
Foi com o homo sapiens, há várias centenas de milhar de anos, que se deu o primeiro episódio da história da comunicação. Este homem aprende a exteriorizar as suas necessidades, as suas ideias, os seus desejos; aprende a exteriorizar-se. Estabelece um sistema de comunicação cada vez mais elaborado a partir do seu próprio corpo. Faz gestos que ganham um sentido cada vez mais preciso, emite sons que se tornam, pouco a pouco, códigos significativos. 0 canto e a dança permitem-lhe exprimir sentimentos, manifestar alegrias, tristezas ou orações. Diferencia-se dos animais por um sistema de comunicação progressivo e aberto, que pode transmitir-se e enriquecer-se, de geração em geração.
A expressão corporal e verbal constitui o único modo de comunicação. E necessita da presença de todos os interlocutores num mesmo espaço e momento.


Temos assim a comunicação interpessoal como o processo de criação de relações sociais entre pelo menos duas pessoas que participam num processo de interacção, isto é, acontece quando duas pessoas interagem reciprocamente e interliga-se às aprendizagens em família pelo seu recurso apenas à fala e aos gestos.
Esta modalidade não formal de aprendizagem é por excelência muito relevante, é no espaço familiar que se apreendem valores que servem de pilar à vida e às restantes aprendizagens, desde o simples acto de um pai que ensina o filho a pescar ou a mãe que ensina a cozinhar.


A Comunicação de Elite
O aparecimento da escrita permite uma configuração comunicativa radicalmente nova. A sua linguagem constitui-se mediante regras gramaticais, exigindo uma aprendizagem especial, um conhecimento especializado. É um saber que não pertence a todos. Estabelece-se, assim, contrariamente à oralidade, uma dicotomia entre os que dominam o seu exercício e os que não. É com base nesta desigualdade que Cloutier (1975) designa esta configuração comunicacional por comunicação de elite.




Associada a esta fase da comunicação surge a Escola como um espaço de aquisição de saberes e capacidades.
A abertura da educação escolar a todas as classes sociais é um processo tardio, uma vez que, e indo à raiz do termo “escola”, este deriva do conceito grego de “ócio” (tempo livre), sendo os populares excluídos desta elite por terem que trabalhar.


A Comunicação de Massas
Os média colectivos (mass-média) criam uma nova sociedade baseada na comunicação de massa.
Dois momentos históricos correspondem no século XV ao aparecimento da tipografia e desenvolve-se no século XIX com uma série de invenções no âmbito das telecomunicações (do telégrafo e do telefone) e do som e da imagem electrónicos (radiofonia, cinema e televisão).

Por volta da década de 60 do século XIX, inicia-se o período da fase industrial e da comercialização em massa com a publicação de jornais a preços reduzidos dirigidos a públicos numerosos e heterogéneos.



O segundo momento da comunicação de massas remete-nos para a "galáxia de Marconi", caracterizada pela emergência das telecomunicações e do mundo das imagens electrónicas, dando-lhe início a uma nova era comunicacional de espaços multidimensionais. Com a invenção do transístor a rádio pode acompanhar-nos por todo o lado. Vence todas as distâncias, sejam de âmbito físico ou cultural, achando-se ao alcance dos indivíduos analfabetos.



A televisão é o último média a surgir. Parte da "força" deste media, capaz de influenciar e organizar os estilos de vida e hábitos comunitários, bem como condicionar culturalmente os cidadãos através da disseminação de ideias e modismos à escala planetária.



Surge assim o conceito de Escola Paralela, a escola deixa de ser a única fonte de divulgação de saberes e é posta em causa com o aparecimento destes meios de comunicação de massa.
Segundo Friedmann (1962) Escola Paralela é “o conjunto de estímulos afectivos e intelectuais que recebem as crianças desde a sua mais tenra infância e fora da “escola oficial”, a partir do meio ambiente, da televisão, a rádio, o telefone, o transmissor, os desenhos animados, as revistas do país.”


A presença dos meios de comunicação de massa gerou três movimentos diferentes sobre a sua relação com a “escola oficial”:
Substituição – Defendido por Ivan Illich, deveria existir uma sociedade sem escola, onde cada homem acederia livremente aos conhecimentos através dos média.
Concorrência – Defendido por Louis Porcher, esta concorrência está relacionada com o facto da escola oficial não conseguir acompanhar o avanço e a grande capacidade de difusão da escola paralela.
Complementaridade – Movimento protagonizado por La Borderie, que não concordava com esta distinção entre as duas escolas. Para este autor a escola será um espaço complementar de encontro das diferentes formas de interpretar o mundo.



A Comunicação Individual
Os média individuais (seíf-media) oferecem-lhe uma era nova, a da comunicação individual.
A chegada dos transístores, dos circuitos integrados e dos microprocessadores, para além de banalizarem os meios de comunicação de massa e assegurarem o seu triunfo, abrem uma nova configuração comunicativa. Daí que Cloutier designe este novo episódio comunicativo por comunicação individual, pela possibilidade de se dispor duma série de meios individuais tanto para emitir como para receber.
O ENIAC (Electronic Numeral Integrator And Calculator), foi considerado o primeiro verdadeiro computador. O indivíduo deixa de ser um mero espectador para se converter em emissor e processador da informação.
A capacidade de interligação destes equipamentos entre si, dando origem às redes informáticas, permitiu a sua utilização colaborativa. Esta ampliação do uso individual marca a passagem para uma nova configuração comunicativa.



Esta nova era, associada à Auto-Educação, permite que o aluno deixe de ser apenas um estudante que frequenta cursos recebendo os ensinamentos do Professor, para se “auto-educar”, acedendo pelos seus próprios meios a uma aprendizagem autónoma.


Comunicação em Ambiente Virtual
No topo da pirâmide surge-nos a Comunicação em Ambiente Virtual, a utilização das tecnologias de comunicação, ocorrida nos últimos anos da década de 80, marcada fundamentalmente pelo aperfeiçoamento dos microprocessadores, pelo uso da fibra óptica e pela digitalização da informação, anuncia mudanças profundas, algumas já em curso, outras que se pronunciam, sendo a noção de rede o conceito chave para caracterizar este episódio comunicativo.
A entrada progressiva da informática no mundo dos media abriu vias de aliança entre as telecomunicações, o audiovisual e o computador, iniciando o estabelecimento das tradicionais fronteiras entre sistemas.
Ao alcance da "ponta dos dedos" do "homo communicans" abre-se um mundo de informações vindas de lugares muito longínquos e por tradição fechados, como os grandes arquivos, ao mesmo tempo que lhe permite estar, sem se mover fisicamente, em diferentes lugares. Reside aqui a grande diferença entre o ecrã televisivo da era dos mass-media e o ecrã informático: enquanto a televisão traz o mundo público para dentro de casa, o ecrã informático, conectado em rede, leva o mundo interior de cada indivíduo para o espaço público.
A Internet que hoje conhecemos e que milhões de indivíduos já utilizam, é o exemplo da rede de base colaborativa.


A ligação ao ensino faz-se através das Comunidades de Aprendizagem. A distância deixou de ser uma barreira para a formação destes grupos, esta comunicação em ambiente virtual é suportada pelas redes electrónicas de comunicações que permite para além de se criarem condições para que os professores e alunos desenvolvam interacções, que cada escola, professor ou aluno possa estabelecer facilmente relações plurais e colaborativas com outras pessoas, potenciando-se a formação em territórios educativos.



A Comunicação aparece assim, desde sempre, ligada à Educação.
A meu ver, todas estas fases devem ser cumulativas num sistema de ensino. Uma pessoa encontra-se em constante aprendizagem, quer esteja no seio da sua família, na escola, a ler, no cinema, ver televisão ou na internet, o importante é tirar partido de todos os ensinamentos que delas se consigam extrair.
Não podemos deixar de salientar o papel de extrema importância que as TIC têm desenvolvido no contexto da comunicação/educação, colocando ao dispor de todos um número incalculável de saberes e testemunhos, fazendo de todo um mundo um espaço único de partilha.
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Bibliografia
Freixo, Manuel João Vaz. Teorias e Modelos de Comunicação. Lisboa: Instituto Piaget, 2006
http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=161&doc=11918&mid=2
http://www.univ-ab.pt/~bidarra/hyperscapes/video-grafias-257.htm
http://www.minerva.uevora.pt/stclara/pp03-04/alunos/6f/comunica/introd.htm
http://www.lerparaver.com/node/148

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Paula Martins
Instituto Piaget – Almada
Aluna n.º 42137
Dezembro 2009

1 comentário:

  1. Paula,
    obrigado pelo seu trabalho. Além da história da comunicação, fez (bem) a ponte com os contextos educativos, o que , no fundo, é o que mais nos importa a nós professores.

    Ctos.
    PPM

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